Entrei rangendo as dobradiças mal lubrificadas do portão. Parei em frente à porta, esperando te ver por detrás do vidro turvado enquanto ouvia o tilintar das suas patinhas descendo as escadas, contrariando a lógica da situação.
Esses dias sonhei que você tinha voltado como se nada tivesse
acontecido. Como daquela vez que você fugiu e reapareceu três dias depois, saindo por debaixo dos arbustos e correndo em minha direção, quase me dizendo o quanto sentira a minha falta. Não
sei como, mas eu te entendia e eu sei que você sentia o mesmo.
Quando te conheci, você estava miúda no canto do carro. Uma bolinha de pelos de quatro meses que tremia sem parar e me observava com as pupilas dilatadas. Eu logo me senti na obrigação de te proteger. Pouco tempo depois, foi você que virou cuidadora. Me consolando enquanto eu chorava de raiva ou pulava de alegria.
Faz
um mês que tento escrever esse texto. Uma forma de homenagear alguém que foi tão importante na minha vida. Que esteve do meu lado por onze anos. Mas o luto ainda prevalece, brotando uma incontrolável quantidade de lágrimas que me impedem de finalizar um parágrafo.
Esses
dias li no pinterest que luto é "amor que não tem pra onde ir". Qualquer lembrança é gatilho que vira lágrima. A escadaria, a esteira, o matinho que você comia, o seu cobertor... amar dói. Mas ter medo de amar nos priva das lembranças que eventualmente viram saudade. Eu te amei Lika. E não me arrependo por um segundo se quer. Obrigada por tudo cachorra.
Até a próxima ♥